Certa Vez em Faxinal
Quem um dia viveu no interior do Estado do Paraná quando as estradas eram de macadame ou barro, morou em casa de madeira, com as pequenas cidades cheirando o pioneirismo de uma gente arrojada que enfrentava as dificuldades por acreditar em dias melhores, atravessou em balsas trechos de rios, com luz elétrica precária , sem telefone e nem televisão com certeza não dá o devido valor e nem valoriza o quão difícil era viver distante dos centros mais evoluídos.
Porém para compensar tinham episódios que nenhuma cidade grande poderia proporcionar porque o cenário quase desértico oferecia oportunidade para que pessoas especiais tornassem a vida muito mais prazeirosas. Lembro que em Perobal, então distrito da Comarca de Umuarama, que um folclórico escrivão distrital preparava churrasco de carne de cachorro (dizendo que era cabrito) para deleite de seus convidados para só no final da refeição contar a verdade e enquanto muitos se sentiam mal ele dava gostosas gargalhadas.
Depois então dizia que qualquer carne de animal preparada e bem temperada com requinte era digerível e não fazia mal para ninguém. É claro que ele perdeu muitos amigos mas nunca deixou de pregar uma boa “peça”.
Lá em Faxinal também tinha uma pessoa que fazia qualquer coisa para uma brincadeira bem “bolada” a fim de colocar seus amigos num beco sem saída. Ela é uma senhora de fino trato, esposa de um querido médico, que tinha um espírito aberto e sabia brincar com o humor alheio pois aprontava situações jocosas para a alegria de muitos. Vou narrar uma de suas brincadeiras que os leitores desta crônica com certeza vão se divertir.
O senhor Tarcísio Davantel era um rico fazendeiro da região e dono da única oficina autorizada da Volkswagen na cidade, tendo construído este complexo mecânico bem ao lado de sua residência, uma casa de material ampla e confortável.
Numa época em que não tinha programação de televisão em Faxinal o uso de maquinário elétrico e o barulho da oficina que funcionava no período da manhã até o início da noite todos os dias da semana, não atrapalhava em nada a vida da família e nem de seus vizinhos.
Porém, um dia, foi instalada uma repetidora de imagem da TV Tibagi de Apucarana, numa parte mais elevada da Serra do Cadeado, próximo do então distrito de Mauá, e assim Faxinal passou a receber imagem e som da referida emissora que iniciava a retransmissão às 16:00 e encerrava as 00:00 todos os dias. Salvo quando chovia porque a linha desligada automaticamente para evitar danos na instalação.
Desde então a TV da casa do Sr. Davantel não pegava com nitidez a imagem dos programas em razão das interferências dos maquinários elétricos de sua oficina mecânica. Assim, aborrecido com a situação e não suportando as reclamações de sua família o empresário resolveu comprar um terreno bem distante da oficina para construir sua nova residência.
O local era muito bem situado em uma quadra de terrenos que tinha um lote vazio bem ao lado da área que ele comprara. E não demorou muito começou a construção da nova residência, também de material, em estilo bem moderno ampla, com garagem para quatro carros e com todo o esmero e conforto para a família. E com certeza sem problemas para assistir a programação da TV.
E quando começaram a subir as primeiras paredes da construção, da noite para o dia aconteceu o inesperado : no terreno baldio ao lado da casa em construção foi colocada uma placa pintada, com os seguintes dizeres: “Breve aqui a construção da oficina especializada da Chevrolt.
Grupo de Apucarana para servir Faxinal”. Quando o sr. Tarcísio soube da notícia não pensou duas vezes e irado foi até a Prefeitura tirar satisfações com o prefeito por ter concedido alvará para construir uma oficina mecânica ao lado da sua futura residência.
O alcaide ficou sem saber o que dizer porque não autorizara nenhuma outra oficina na cidade. O clima esquentou e a política local ferveu. Tudo brincadeira daquela senhora brincalhona que aprontara um de seus melhores trotes e quando descoberta a sua autoria, redobrava todos os cuidados para não ser “vítima” de suas vítimas.
Lembro deste episódio com saudades da cidade de Faxinal e de bons amigos que lá deixei e que carrego em meu coração até hoje. Eu fui homenageado com uma placa de bronze com o meu nome e está cravada sobre um pequeno obelisco de pedra ao lado da Igreja da cidade, em frente da praça principal, como prova imorredoura de minha passagem profissional naquela cidade.
A mulher em referência e seu esposo são pais de dois renomados médicos cirurgiões plásticos, especialistas em cirurgia de face, em Curitiba …
“Nos acontecimentos grandes e pequenos do cotidiano estão as melhores pérolas do que melhor existe na vida. Saber extrair de cada episódio as boas lembranças com certeza rejuvenesce a alma e imortaliza os nossos momentos.”
Édson Vidal Pinto